Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



domingo, 4 de março de 2012

Pedras



Poucos kilômetros antes de Barra do Rio de Janeiro há um vilarejo chamado Pedras. Está situado nos domínios da antiga fazenda Silga. Na dúvida se havia chegado ao meu destino, encostei a bicicleta e chamei na primeira casa do povoado. Um velho pequeno e branco me atendeu; chamava-se Valdivino. Sem qualquer desconfiança, me convidou para entrar e tomar um café. Aceitei. Eram quase meio-dia.

A casa era muito simples – como todas no local –: tortas paredes de alvenaria e reboco improvisado. Entrei com a bicicleta pelos fundos, atravessamos o quintal e seguimos para a cozinha. Era um barraco separado do resto da casa; o chão era de terra batida e vigas de madeira seguravam o telhado sem forro. A parede lateral da casa – onde encostei a bicicleta – estava adornada com várias gaiolas de pássaros nativos: Seo Valdivino era “passarinheiro”.




Depois de meio copo de café servido, Seo Valdivino explicou melhor o caminho para Barra do Rio de Janeiro – era só continuar na estrada, uma légua e meia mais (aproximadamente nove kilômetros); passaria pelo carvoeiro e a capelinha, até a Barra.

No intuito de prolongar o encontro começou a falar de sua vida. Era viúvo, morava sozinho, e tinha uma neta que o visitava com frequência. Não gostava de cozinhar, por isso não tinha nada em casa. Falou que passava fome, mas por preguiça; confessou. Pediu desculpas por não ter nada para oferecer além do café, mas se eu quisesse, tinha um pouco de pipoca que a neta preparara no dia anterior. Aceitei – estava com fome. A pipoca estava fria e murcha, mas servia bem como acompanhamento do café. Entendi que sua comida era aquilo que a neta deixava pronto quando o visitava.



Antes que saísse, quis mostrar o resto da casa. No lado de cima do quintal havia um cachorro amarelo esquálido preso em uma corrente. Perguntei porque o animal estava tão magro. Seo Valdivino não sabia ao certo, disse que alimentava o bicho, mas que ele não comia. Disse que o cachorro era muito bom – forte e saudável – mas desde o dia em que caiu de uma camionete, mudou o comportamento. Curaram o bicho, mas ele ficou desse jeito “encorujado”.



Deixei Seo Valdivino e voltei para a estrada. Antes de sair, ainda tive de aceitar mais um gole de café – o único produto que, segundo ele, dava-se o trabalho de preparar (passava os dias a cigarro e café).

Sai deixando aquele tempo parado atrás.

Pedras: fotografias antigas.

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