Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

De Buritizinho para Três Marias


Já passava do meio-dia quando saí de Buritizinho. Procurei prestar bastante atenção nas explicações de Diego sobre o modo de chegar a Três Marias passando por Andrequicé para não errar. Enchi minha garrafa de água e me dirigi para a porteira que separava o vilarejo da estrada batida.

Parecia fácil pois, como me preveniu Diego, era só não pegar nenhum “gaio” que chegaria em meu destino. – Com Diego aprendi que nos rincões de Minas estrada real é o mesmo que principal, e que “gaio” são os atalhos.

Tudo corria bem: encontrava os mata-burros e as plantações de eucalipto; consultava o mapa que Diego desenhara toda vez que tinha dúvidas da direção. Mas a tensão persistia, pois minha certeza era frágil; bancos de areia e labirintos de eucalipto também indicavam que a viagem poderia demorar mais do que o previsto. Quase ninguém passava por ali, barulho só o piar de pequenos pássaros. - A quem perguntar se era o caminho certo? -. De repente, um ônibus escolar veio em minha direção. Abro espaço para que ele passe. Espero, cumprimento o motorista e continuo. Mais alguns kilômetros, um trator com vários homens me ultrapassa e aproveito para conferir o destino até Andrequicé. Eles dizem que eu perdi a entrada a algum tempo. Não acredito pois ainda faltava ver a tal placa para então virar a direita - como dissera Diego. – Provavelmente aqueles homens conheciam outro caminho e se referiam a este, não ao que meu informante me instruiu, concluo.



Insisti na direção em que estava. A quantidade de areia dificultava muito a viagem. Meus braços doíam pela força que fazia tentando controlar a bicicleta. Era normal derrapar, perder o movimento e ter que empurrar até que fosse possível pedalar novamente. Não imaginava que pedalar na areia fosse dar aquela canseira, começava a me preocupar com o rendimento, pois minha preocupação maior era chegar no destino antes do anoitecer.

Eram quase quatro da tarde quando um motoqueiro me alcançou e simplesmente disse: “Você errou o caminho.” – Seria possível? Prestei tanta atenção! –. Era Diego. Consertara o pneu da moto e viera atrás de mim porque, segundo ele, ficara preocupado. Perguntou se eu não vira a placa. Questionei que espécie de placa era essa, porque eu esperava algo como as de sinalização de trânsito. Foi quando ele informou que era bem pequena. Mas para meu sossego, eu não estava perdida. Um pouco mais a frente, era a BR 040. Para Três Marias bastava seguir à esquerda aproximadamente quarenta kilômetros.

Chegamos à BR. No entroncamento das estradas, havia um bar chamado Arapuca, bastante frequentado por meu “batedor”.
Paramos e ele me ofereceu uma Coca Cola. - Duas meninas atendiam naquele bar. Conversamos e logo segui. Tinha o tempo contado para percorrer a O40 antes que escurecesse.

A BR, pelo menos no trecho em que andei, estava muito boa: acostamento largo e com aslfato novo.

Eram seis e meia da tarde quando cheguei na cidade. Os últimos dez kilômetros foram feitos no escuro. Uma grande tensão pois não levava lanterna e a chegada era um longo trecho em declive.

2 comentários:

  1. Já me aconteceu do " gaio" ser da grossura do tronco... Há sorte dentro das suas coragens.

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  2. Verdade. Não nego que tive, sim, muita sorte. Pois perigos existiam, e imprevistos fazem parte; mas mesmo sob imprevistos e erros, tudo dava certo e eu vencia cada etapa sem susto ou risco.

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