Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



sábado, 24 de setembro de 2011

Curvelo: Chegada

Ainda tinha fôlego para ter mais medo. Em Curvelo começou a vir a conta de quanto urbanizada eu era e quanto uma cidade me dava segurança. Foi avistar os postes de eletricidade e entrar no asfalto para que minha respiração voltasse ao normal. Estava feliz pois tinha vencido os quarenta e oito kilômetros de Cordisburgo até lá sem sofrer nenhum perigo. Nem importava ser a cidade desconhecida, era área urbana e isso bastava para me confortar.

Como sempre, me diriji para o centro. Já era noite e eu devia buscar abrigo.
Curvelo me agradou muito: cidade de porte médio, bem organizada e com considerável oferta de serviços. Ao perguntar para duas moças que saíam de um salão de cabeleireiro onde poderia encontrar um hotel barato e perto do centro, elas me indicaram o Bandeirantes que, depois de encontrado, nem cogitei pesquisar outro. O preço estava adequado ao que me dispunha a pagar e as estruturas pareciam boas. – Havia também o cansaço.

Enquanto fazia o check-in, um rapaz veio perguntar sobre que tipo de ciclismo eu praticava: ficou curioso com a bike e identificou que eu viajava com ela. Chamava-se Daniel e fazia parte do grupo de aventuras Amantes da Magrela. Disse-me que costumava pedalar com amigos para Diamantina (cento e setenta km distante) e que eu seria bem vinda no grupo caso desejasse pedalar com eles em outra oportunidade. Trocamos e-mails e nos despedimos.

Subi para o quarto: dois lances de escada com a bicicleta nas costas; aproximadamente trinta kilos que eu preferi carregar ao trabalho de desacoplar os alforjes e ter que fazer a viagem até o quarto duas vezes.
Preferi ficar em um quarto sem banheiro pelo preço: paguei 50,00 reais por duas noites. Ao entrar, enviei uma mensagem para o Beto informando que tudo estava bem; ele respondeu aliviado.

Completamente esgotada, joguei-me no chão pois minha roupa e minha pele estavam imundas de poeira e suor. Descansei e em seguida alcancei a parte do alforje onde guardava alguns alimentos. Comi vorazmente com água, tinha banana fresca e desidratada, pão- de-queijo velho - que ganhara em Araçaí - e barrinhas de cereal.

Sei que para alguns aquela situação poderia ser loucura: sozinha em um quarto de hotel de uma cidde desconhecida, vindo de bicicleta, imunda, comendo comida amassada e velha... Mas eu estava feliz, feliz como nunca: não desejava nada além daquilo. Era a Ana Luísa que eu amava, na qual me reconhecia: nunca estive tão plena, tão inteira. Liberdade, resistência e desafio: meu mundo.

2 comentários:

  1. Tive sorte nesta vida de conhecer Ana Luísa.
    Conhecí, pelo seu jeito de ser, a calma.
    Conhecí, nos seus olhos, o brilho do olhar de felicidade de uma criança.
    Conhecí, pelo seu jeito de ser, a "garra" de fazer o que se quer, mesmo que o mundo diga não.
    Tive sorte nesta vida!
    Henry

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  2. Comentário querido de meu amigo e ex-patrão, Henry Lippi. Pessoa incrível, de coração raro, nobre.
    Eu é que tive a sorte de conhecê-lo, e também a sua linda família.

    Obrigada pelo carinho

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