Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cordisburgo: Saída

A bicicleta me esperava do lado de fora do restaurante Cheros.
Acabada minha visita a Maquiné, era hora de seguir viagem. Pensava no caminho até Curvelo: estrada de terra e muita poeira. Não hesitei em perguntar no Cheros se eles tinham algum pedaço de pano para que eu protegesse o rosto no trajeto. Uma senhora, provavelmente dona do restaurante, sugeriu uma máscara higiênica; nada poderia ser melhor, pois a máscara serviria com mais eficiência àquele fim. Trouxeram-me duas. Agradeci a gentileza e parti.
Curiosamente, estava me sentindo leve. Aproveitava uma brisa que percorria meus cabelos, para a qual não tinha atentado antes. Percebi que havia algo de novo na pedalada, um estado diferente. De repente me dei conta de que estava sem o capacete. Havia esquecido no banheiro do restaurante junto com minha máquina fotográfica. Susto. Voltei imediatamente. Por sorte, não tinha ido muito longe, do contrário meu atraso me obrigaria a pernoitar em Cordisburgo.

Entrei novamente no restaurante meio desajeitada, preocupada se encontraria meus objetos. Expliquei o problema e me diriji para o banheiro. Por sorte, tudo estava lá. Aliviada, guardei a máquina, vesti o capacete e, definitivamente, parti.

Na cidade, pedi água para uma senhora que estava à porta de casa. Um pouco mais abaixo na mesma rua, conversei com alguns homens que confirmaram a estrada para Curvelo (começava a uns trinta metros de onde estávamos). Perguntaram se eu estava sozinha – disse que era rastreada por satélite. Incrédulos do que eu desejava fazer, me previniram do risco daquela estrada: “tem muito bandido por aí, esses dias assaltaram um homem e roubaram seu carro, amarraram o cara... Ocê toma cuidado, eih, menina, que esta estrada anda muito perigosa!”



Fiquei preocupada. Eram mais de três da tarde, teria que percorrer 48km, sendo que 43 eram de terra. Se houvesse qualquer problema durante o trajeto corria o risco de estar a noite na estrada. Decidi tentar, mas antes enviei uma mensagem para o Beto dizendo das histórias que ouvi; falei do medo e acertei que eu deveria completar o trecho em no máximo três horas e meia – portanto se eu não lhe enviasse qualquer mensagem até oito da noite, ele deveria acionar a polícia em Curvelo. Achei patético pensar nesta medida, mas o que eu iria fazer? Não conhecíamos ninguém lá.

Disparada para vencer logo a tal estrada perigosa. Quase nenhuma fotografia, muita poeira e nervosismo. Era quase noite quando atingi os últimos cinco kilômetros de asfalto. Ufa! Curvelo estava perto, e agora podia pedalar sentindo-me mais segura, pois no asfalto ganhava velocidade.

Um comentário:

  1. Esse trecho é realmente muito penoso, muita costeleta e poeira porque a estrada é relativamente movimentada. Quando a gente chega no asfalto dá um alívio danado. Também peguei a estrada à tarde, cheguei em Curvelo no início da noite, talvez mais cansado pela pressão do que pelo pedal.

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