Não sei o que teria sido viajar tantos dias se ele não estivesse comigo. Não sei se tudo seria triste ou, ao contrário, se tudo seria só a alegria da partida, do adeus, do homicídio territorial.
Quando me propus a sair sem destino certo - sem prazo pelos sertões - desejava a solidão concreta - para além daquela de quem há muito se perdeu na própria casa. Buscava uma espécie de morte, de esquecimento. Queria deixar de ser: a possibilidade de desintegração, a possibilidade de “ser tão no nada”, de ir para meus vazios, meus silêncios; o não sabido.
Mas isso não sucedeu pois ele esteve ali o tempo todo: ouvindo meus relatos, compartilhando o medo, incitando a coragem, acumulando saudade... - O Beto dava realidade à minha transumância.
O simples bom dia dele já fazia o dia bom, coloria minha alma e iluminava os caminhos. Eu amava aquele homem que sabia de mim em cada estrada, que oferecia amor e enviava flores - mensagens das quais me tornei dependente -;o único que estava comigo de alma.
Não houve vinte e quatro horas que passassem sem o nosso encontro. Sabia que ele estaria comigo em qualquer lugar - dizia me velar através da lua. E se não me perdi foi porque ele me queria de volta: de repente uma vida possível se manifestava pelo telefone e a viagem era só uma preparação necessária do futuro.
A viagem ganhou arestas de tempo por causa dele, porque me apeguei com desejo e gratidão àquele homem.
Confesso que o sertão não teria tido o mesmo sabor sem ele. Teria sido longe demais - longe de mim. Apagar-me-ia nas descobertas do mundo esquecendo o caminho do coração - pelo menos por mais tempo.
Sou extremamente grata ao Beto pelo que representou nos quarenta e seis dias de travessia; pelo seu amor e especial carinho.
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