Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

27/05 - Brasilândia

Olá amigos,


Hoje escrevo de Brasilândia. Mudei o trajeto da viagem para conhecer Paredão. - E também porque, segundo me contaram, quanto mais para cima no estado, mais areia iria encontrar nas estradas (quantidade que atola carro). - Se eu morasse nesta região só ia andar de trator, rss.


Bem, de Buritizeiro a Brasilândia, passando por Paredão e Santa-Fé foram 249km, sendo em torno de 176km de terra, por estradas de todo tipo: com areia, com cascalhos maiores que pedras portuguesas, com cascalho fino e bom para pedalar, com costelinhas, buracos, poeira e tudo isso junto. Além dos trechos em pavimentação, que tem piso tipo saibro, e outros com piche grudando no pneu.
A princípio, iria de Santa-Fé para São Romão e de lá para a cidade de Urucuia, mas como minhas opções neste roteiro seriam somente terra com muito cascalho e areia, além dos vazios de gente; decidi dar a volta por Brasilândia e chegar em Urucuia somente por asfalto. Vou andar um 100km a mais, porém deve valer a pena.
Não aguento mais o sol do sertão - minha pele já está cor de urucum - e os vazios das estradas. Também cansei de sentir medo, medo de cair a noite e eu ficar no mato. Em Grande Sertão, Riobaldo fala do território ermo: Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas sem topar com casa de morador...
É verdade, sim! Claro que, atualmente, as estradas estão mais movimentadas, mas ainda assim a gente pode passar tempo sem ver ninguém no caminho.
Do Rio Paracatu para Santa Fé foram 31km sem ver absolutamente ninguém, no meio de uma estrada estreita e cheia de areia, no meio do cerradão. - É um silêncio tumular. A gente tem que manter a calma e não esquecer que apesar dos vazios, as áreas rurais são povoadas e que bicho perigoso anda de noite, não durante o dia.
Para Paredão foi um trecho muito difícil. Por um momento percebi que se eu não racionasse água poderia ficar sem líquido no caminho. Um litro e meio não são suficientes na secura de outono do cerrado. Minha sorte é que quando passou um carro eu pedi para que parassem e perguntei se tinham água no carro. Tinham e me deram, um litro a mais.
Entretanto, minha maior dificuldade neste trecho foi mesmo o sol, além da "química". Passei protetor solar em spray no rosto e o líquido entrou nos olhos. Não conseguia enxergar. A sorte foi que carrego uma garrafinha de soro fisiológico para lavar os olhos da poeira, foi o que resolveu depois de um tempo.


De Buritizeiro até aqui não foi muito fácil, mas agora parece que vai ser tranquilo: só aslfato. Meu vilão continuará sendo mesmo o sol.


As pessoas até agora tem sido muito receptivas e não tenho tido problemas com gente. Muito pelo contrário, elas só me ajudam.
Na verdade em lugares pequenos, ficam muito impressionadas com o que estou fazendo - e acho que muito do meu medo vem das pessoas perguntarem se eu não tenho medo, de dizerem que elas jamais andariam sozinhas por estes matos, que tem bicho, etc.

Em Paredão, tive que assistir a uma missa e o padre pediu para que eu contasse um pouco da minha história para o pessoal.
Em Paredão vivem mais ou menos umas trezentas pessoas. Apesar de luz elétrica e telefone, eles sofrem com problema de água potável. Só têm uma cisterna no distrito e é o exército que muitas vezes abastece com caminhão pipa o local. - Lá é distrito de Buritizeiro.

Em Santa Fé fui fotografada e rapidamente entrevistada quando deixava a cidade, minha passagem por lá vai sair em um blog chamado Intrega Minas.


Gente, mais fotos postarei quando chegar em Urucuia, dentro de mais dois ou três dias. Daqui lá são só 140km, de asfalto, dá para ir rápido. Mas antes vou parar em Riachinho. Acho que foi lá que Riobaldo conheceu Nhorinhá, um de seus amores, a filha de Ana Duzuza. Se não foi lá, deve ter sido pela região, afinal a "Aroeirinha" (o vilarejo onde moram Nhorinhá e a mãe) está no sentido que a tropa pega, no livro, para ir para o Liso do Sussuarão (região bem ao norte, perigosa pela aridez da paisagem). Em Aroeirinha, dão parada para consultar-se com Ana Duzuza, que é uma espécie de vidente,e saber dos presságios para essa viagem.

Hoje fico em Brasilândia. Quem tem meu facebook pode ver as novas fotos lá.


Beijos gerais.

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