Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

19/05

Boa noite amigos, 19/05

Esta é a última correspondência de Três Marias que receberão, depois somente Pirapora ou talvez mais para cima ainda.

Hoje fui ao distrito de Andrequicé, distante 32km de Três Marias (de bike, claro). Lá morou por mais de vinte anos Manuelzão, o vaqueiro mais famoso do Brasil - e quiçá do mundo!
Manuelzão foi o principal contador de histórias a Guimarães Rosa, era poeta também. Em Andrequicé existe um museu dedicado a ele que é na própria casa onde morou. Muitas das palavras especiais da literatura de Guimarães Rosa eram palavras da fala cotidiana do vaqueiro, como por exemplo toleima.
Manuelzão nasceu em 1904 e morreu em 1997. - Longa travessia!
Era ele também quem costumava dizer: viver é negócio muito perigoso. Esta pessoa, e personagem incrível imortalizado em "Manuelzão e Miguilim", ousaria eu dizer que, misturado a Rosa, é o próprio narrador de Grande Sertão: Veredas. Riobaldo tem falas de Manuel Nardi ( nome real do vaqueiro)!

Hoje foi um dia incrível, quase chorei ao ver materializada em minha frente todas aquelas histórias do sertão.
Conheci a filha mais velhas de Manuelzão e um de seus netos, Marco Túlio. O garotinho se encantou com a bicicleta, queria saber como mexia, trocava de marchas, etc...
Maria, a filha, é artesã, tem 69 anos.

Tudo está sendo tão mágico que novamente chego a um lugar no dia em que haverá um evento especial. Hoje era a nona semana de museus e memória, houve uma visita guiada para um grupo de idosos de Três Marias, bate-papo com a filha de Manuelzão e contação de história depois. E por este motivo, o jornalista daqui estava lá e fez uma matéria comigo: vou sair no jornal de Três Marias contando da minha viagem!

Mais ainda, ele me explicou exatamente o circuito Guimarães Rosa, disse que foi o responsável pela fundação do museu Manuelzão e ainda me deu dicas de estrada junto ao São Francisco. Amanhã parto para onde começou a viagem de Rosa que deu origem ao livro Grande Sertão e outros, vou para Silga (ou Sirga, como na literatura de Rosa) de onde saiu a comitiva em que foi Guimarães Rosa rumo a Araçaí levando a boiada.
Lá em Silga também está enterrada a mãe de Manuelzão e sua primeira mulher, Luísa. Mas o melhor é que próximo dali, em Barra do Rio de Janeiro, nas Pedras, foi onde Riobaldo viu Reinaldo/Diadorim/ Maria Deodorina da Fé Bittencourt Marins pela primeira vez e por ela se apaixonou. - Lindo demais!

No sertão fala se a língua de Goethe, Dostoievski, Flaubert, porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão, onde interior e exterior não podem ser separados.

Bem, de Barra do Rio de Janeiro não escreverei, pretendo chegar em Pirapora na sexta.

Beijos gerais

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