Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



sábado, 31 de março de 2012

Trechos do encontro de Riobaldo e Diadorim na Barra.

Mas eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem sobejo de esforço, fazia de conversar uma conversa adulta e antiga. Fui recebendo em mim um desejo de que ele não fosse mais embora, mas ficasse, sobre as horas, e assim como estava sendo, sem parolagem miúda, sem brincadeira - só meu companheiro amigo desconhecido.


Ele, o menino, era dessemelhante, já disse, não dava minúcia de pessoa outra nenhuma. Comparável um suave de ser, mas asseado e forte - assim se fosse um cheiro bom sem cheiro nenhum sensível - o senhor represente. (...) Se via que estava apreciando o ar do tempo, calado e sabido, e tudo nele era segurança em si. Eu queria que ele gostasse de mim.
Mas, com pouco, chegamos no do-Chico. O senhor surja: é de repentemente, aquela terrível água de largura: imensidade.
Medo maior que se tem, é de vir canoando num ribeirãozinho, e dar, sem espera, no corpo dum rio grande.
Tive medo. Sabe? Tudo foi isso: tive medo! Enxerguei os confins do rio, do outro lado. Longe, longe, com que prazo se ir até lá? Medo e vergonha. A aguagem bruta, traiçoeira - o rio é cheio de baques, modos moles, de esfrio, e susssuros de desamparo.

"Carece de ter coragem..."- ele me disse. Visse que vinham minhas lágrimas? Doí de responder: - "Eu não sei nadar..."O menino sorriu bonito. Afiançou: - "Eu também não sei." Sereno, sereno. Eu vi o rio. Via os olhos dele, produziam uma luz. - "Que é que a gente sente, quando se tem medo?" - ele indagou, mas não estava remoqueando; não pude ter raiva. - "Você nunca teve medo?" - foi o que me veio dizer. Ele respondeu: - "Costumo não..." - e, passado o tempo dum meu suspiro: - "Meu pai me disse que não se deve de ter..."

(...)-"Você é valente, sempre?" - em hora eu perguntei. O menino estava molhando as mãos na água vermelha, esteve tempo pensando. Dando fim, sem me encarar, declarou assim: -"Sou diferente de todo mundo. Meu pai disse que eu careço de ser diferente, muito diferente..." E eu não tinha medo mais. Eu? O sério pontual é isto, o senhor escute, me escute mais do que eu estou dizendo; e escute desarmado. O sério é isto, da estória toda - por isso foi que a estória eu lhe contei -: eu não sentia nada. Só uma transformação, pesável. Muita coisa importante falta nome.

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