Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pensão da Pretinha - Morro da Garça


Entrando em Morro da Garça encontro – também de bicicleta – um senhor que ia no mesmo sentido. Pergunto a ele por hotel, pousada em Morro da Garça. Ele me diz que há dois lugares de hospedagem, sendo que a Pensão da Pretinha era mais barata e mais confortável.

Sem duvidar de sua palavra, procurei primeiro a casa da Pretinha.
Na porta da pensão havia mais ou menos uns 10 homens sentados. Constrangi-me de leve por insegurança, mas disfarcei, procurando não transparecer o desconforto. Perguntei se aquela era a pensão e se a dona estava. Confirmaram e, com bom-humor, indicaram para que eu entrasse.

Relaxei, deixei a bicicleta entre eles e fui procurar Pretinha.

Praticamente uma garota. Não perguntei a idade, mas com certeza tinha menos de quarenta anos. Era uma moreninha pequena com carinha de criança e olhar doce. Embora fosse a responsável pela hospedaria, a casa não lhe pertencia, nem era alugada. Entendi que ela era empregada da família dona do imóvel e vivia ali cuidando da casa há muitos anos. Provavelmente o negócio não era legalizado, e Pretinha ganhava mais vendendo almoço e janta do que hospedando. – Logo, os homens que estava na porta eram trabalhadores rurais que costumavam almoçar em sua pensão, e, naquele momento, esperavam o ônibus de volta.

Assim que ela me mostrou o quarto, busquei a bicicleta e me alojei, mas antes – como sempre – tive de contar brevemente minha história para os homens que estavam curiosos sobre a viagem. Depois Pretinha me chamou para o fundo da casa onde serviria o almoço. Tínhamos arroz, feijão, frango ensopado, salada de tomate e ovo frito. Se eu quisesse mais, era só me servir no fogão. Prato único por sete reais.



Após a farta refeição, resolvi passear para conhecer a cidade e fazer minha religiosa ligação para o Beto. Dentre os quatro ou cinco orelhões de toda a cidade, foi difícil achar um que funcionasse.
Depois de fazer meu relatório diário para ele, continuei passeando até que o frio da noite que se anunciava me fez voltar.

No caminho pelas ruas de Morro da Garça, só encontrei um casal de namorados na pracinha, duas senhoras que conversavam na porta de casa, um homem subindo uma rua qualquer, duas crianças que andavam de bicicleta preguiçosamente e um velho que tomava sol, esquecido em uma cadeira na calçada. Imaginei que aquele senhor poderia ter boas histórias para contar, então fui ter com ele. Mas que nada, ele já estava surdo e mal falava. Era um velho muito branco; tinha a pele cheia de manchas e algumas pequenas feridas. Ele até balbuciou algumas coisas mas não o compreendi.

De volta à pensão, encontrei dois senhores, sendo que um deles, Pedro, conhecia bem as estradas da região e podia me informar sobre o caminho para Três Marias passando por Andrequicé. Ele me orientou sobre os lugares onde ia passar. Disse que a condição da estrada era bem ruim, falou da poeira, da areia, das distâncias, da escola que havia no caminho e de Buritizinho. Perguntei se em Buritizinho poderia encontrar alguma infraestrutura. Ele disse um nada categórico: NADA. “É uma currutela...; se bobiar não mora ninguém lá, umas três casas e uma igrejinha.” Falou também de um caminho que cortava para Lassance, mas que era difícil por causa das plantações de eucaliptos: eu me perderia fácil entre as quadras das árvores.

Ficamos ainda um tempo de prosa enquanto jantávamos, depois me retirei. Fui para a cama cedo naquela noite, nove horas. Afinal, chegara de Diamantina na madrugada.
Estava frio, mas a quantidade de cobertores com que Pretinha preparou minha cama foi suficiente. Dormi maravilhosamente bem. Sentia-me em casa de vó, conforto incomparável.


Custo em Morro da Garça:
Hospedagem: 15,00
Alimentação: 7,00 refeição
Total: 39,00

Foto 1: Pensão da Pretinha
Foto 2: Almoçando

3 comentários:

  1. Ana, parabéns pelo blog... muito interessante sua viagem!!!

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  2. A narrativa desta viagem ainda está no começo. Ainda tenho muitos kilômetros para contar.

    Obrigada pelo post!

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  3. olá, gostaria de saber se vc tem o contato de telefone da pensão

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