Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Rumo ao Velho Chico

Muita poeira me esperava antes que atingisse as praias azuis e doces da represa de Três Marias.

Ainda não eram sete horas e Pretinha, já de pé, servia o café a mim e a um senhor – que parecia hóspede rotineiro ali. Na mesa havia queijo curado, biscoito de polvilho azedo, pão com manteiga e leite com café. – Para o caso de mais leite, era só pegar no fogão; quentinho na caneca onde acabara de ser fervido.
Estava frio. Movimentos tímidos, corpo contraído. Pretinha prepara um farnel com biscoitões de polvilho para mim. Eu acabava de arrumar os alforges e não havia espaço para mais do que dois biscoitos. (E também sabia que não fariam falta, que provavelmente não os comeria enquanto estivesse pedalando)

O dia ainda não tinha despontado forte para espantar a neblina quando saí. O pasto estava orvalhado, o sol preguiçoso e Morro da Garça ainda no mesmo silêncio domingueiro de quando a conheci. Não sentia que partia de uma cidade, mas sim de uma fazenda. Da pensão (que era no centro) até a estrada que tomava, eram menos de duzentos metros; a estrada era de terra e tinha por início uma pontezinha, cercas e um cavalo desinteressado no trânsito.

O início da viagem estada muito agradável. Mas não durou muito, logo o dia começou a esquentar e a poeira da estrada a revelar a aridez dos meses invernais.
Tinha sido prevenida, mas jamais imaginei que pudesse a coisa ser tão séria, eram toneladas de poeira que mais parecia chocolate em pó. Se elevava uns vinte centímetros do solo em alguns trechos e se espalhava no ar como fumaça quando remexida – tanto que pensei em fogo quando vi ao longe o rabicho alaranjado subindo para o céu. Então ouvi barulho de motor e entendi que não havia incêndio, era só um carro que vinha no sentido contrário.

Enfrentei o trecho pedalando o tempo todo com máscara, mas para os olhos não tinha proteção, assim em algumas paradas lavava os olhos com solução de soro fisiológico. A terra era finíssima escondia uma estrada de cascalho grosso, com pedras do tamanho de bolas de tênis que tornavam a pedalada mais lenta. – Nos aclives, empurrei várias vezes, pois não via as pedras e perdia o ritmo no choque com elas.

Até a escola, onde me disseram que passaria, foi um sobe e desce no meio do poeirão, depois veio um chapadão bonito, com estrada boa até Buritizinho.

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