Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Retorno a Curvelo

Madrugada na rodoviária. Pouco frio e uma pergunta: caminhar ou tomar um taxi de volta para o hotel? – Eram três da manhã.

Pensei (tentando relacionar alhos com bugalhos):
Viajar de bicicleta sozinha parece uma idéia arriscada, e, no entanto, é o que tenho feito. Andar dez minutos pelas ruas de Curvelo na madrugada é uma aventura mais grave? Certamente que não. Logo, decisão: ir a pé.

Caminhava rápido com a cabeça baixa coberta pelo capuz da jaqueta: queria disfarçar a imagem para dificultar a identidade feminina (medo é uma coisa que a gente tem toda hora).

Poucas quadras passadas e o olhar, que antes ia baixo, espreitando as gentes, começou a se erguer. O medo foi passando conforme observava que, àquela hora, só haviam uns poucos jovens na rua. Eram na maioria adolescentes saídos de bares ou casas noturnas que não haviam de querer nada exceto desfrutar o prazer da liberdade recém conquistada.

A realidade era só a realidade, o perigo morava mais na imaginação do que no lugar. O receio da noite na cidade desconhecida se foi com a familiaridade da cena acondicionada nas curvas da memória: – Na lembrança adolescente, na idéia juvenil da nossa cultura que acredita estar o prazer nas noites com som alto, álcool, alguma pretensa dança, beijos e vazios. Só assim, organizado assim, temos feito estas madrugadas – há pelo menos cinquenta anos.


Cheguei no hotel ávida pela cama. Sabia que teria poucas horas de sono pois logo cedo partiria para Morro da Garça.

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