Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



terça-feira, 13 de setembro de 2011

Cordisburgo: museu Guimarães Rosa

Era a primeira visitante daquela sexta-feira. Antes de entrar no museu, puxei prosa com dois senhores sentados na calçada, a beira da ferrovia Central do Brasil.

Desde
que deixei Belo Horizonte, um diálogo se tornou parte da travessia, algo assim:

"Mas menina, ocê está vindo de onde?"
Respondia me referindo sempre a cidade anterior onde passara. Dependendo da situação, acabava por comentar que o início da viagem tinha sido em Belo Horizonte.
" Nussa, mas cê é animada demais! Tá sozinha?"
Sim.
"Nossa, mas ocê não tem medo, não?"
No início costumava dizer que tinha - mas isso era meia verdade.
"Corage..." E daqui ocê vai para onde?"
Mencionava a cidade mais próxima, no sentido norte.
"É animada..."

E assim desenvolvia-se todo o resto da conversa especialmente direcionada para as condições da próxima estrada que enfrentaria. O objetivo era colher sempre o máximo de informações, como: kilometragem, estado do caminho – se era asfalto ou não, se tinha acostamento ou não; costelinhas, buracos, subidas, pedras, etc. Tudo para planejar o percurso com segurança e eficiência.

Depois da boa prosa, despedi-me dos senhores e fui para o museu. Permitiram-me entrar com a bicicleta e deixá-la no corredor que dava acesso ao quintal da casa.
Fui recebida por uma garota de uns treze anos, no máximo, que era uma "Miguilim" (guia treinado para orientar
a visita e contar histórias dos livros de Guimarães Rosa).












Após conduzir-me para todos os ambientes da casa onde nasceu, e viveu o escritor durante a infância, fomos até o jardim e ela perguntou se havia alguma história que eu desejava ouvir.

Pedi para que contasse algo do livro No Urubuquaquá, no Pinhém; ela disse que infelizmente deste não sabia nada. Assim sucedido, pedi-lhe que me contasse qualquer conto de seu gosto. Ela então pôs-se a dizer palavra por palavra um pedaço do conto Campo Geral, do livro Manuelzão e Miguilim. Contou a parte em que o personagem Dito morre de tétano devido a um ferimento no pé.

Pediu para que eu me sentasse em um banco de madeira comprido, embaixo de uma cobertura no quintal, e se colocou de pé em minha frente começando a narrativa. Foi curiosa a situação, pois estávamos sozinhas ali e de repente ela disparou a falar teatralizando sofridamente o texto.
De qualquer forma, era linda sua manifestação, e um grande privilégio receber daquela maneira – dádiva de criança – o universo roseano.


Saí da casa e me dirigi ao último espaço de visitação: a venda, onde era possível comprar souvenirs do museu. Adquiri uma camiseta branca com inscrição de Guimarães Rosa sobre o peito que seria presente para o Beto.

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