Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



domingo, 9 de dezembro de 2012

21/05 - BR365


Convencida de que só me restava encontrar a BR-365 para chegar a Buritizeiro, me despeço de Adriano, o “guarda”da fazenda,  e tomo a direção que indicou. Aproximadamente sete kilômetros mais por chão de terra, saio no asfalto. Barulho, excesso de caminhões, camionetes, acostamento precário: linha reta, pista simples e margens de uma falsa savana de cerrado – afinal, a faixa de mata nativa preservada ali só mascara as grandes florestas de eucalipto que emergem infinitas poucos metros adentro.

Era uma e vinte da tarde. Percorria a monotonia da passadeira preta desde meio-dia e meia. Não havia nenhuma construção na beira da estrada, temia não encontrar qualquer lugar onde pudesse conseguir comida. Poucos minutos depois, porém, avistei do outro lado da pista uma casa entre eucaliptos: supus fosse um posto de gasolina com restaurante. Não era, tratava-se do segundo posto da RIMA, outra empresa-fazenda de eucalipto. Fui recebida na casinha por dois vigias: Wilson e Edmundo, que, para meu alento, tinham ainda alguns pães que sobraram do café da manhã. Tal qual a fazenda anterior, a entrada desta era também gradeada e fechada com tela de metal. Os vigias me convidaram a entrar porque confiaram que eu não era uma espécie de assaltante ou investigadora, pois o acesso ali não era permitido a estranhos. Sentei no terraço da casinha – que era um cômodo com pia e banheiro, simplesmente – e esperei. Logo, retornaram os dois: traziam uma sacola plástica com três pães amanhecidos, com margarina, e um pedaço de doce-de-leite. Desculparam-se por não poderem oferecer uma refeição típica para o almoço: mas recebiam marmita e as porções eram, como se sabe, individuais; e ambos já haviam almoçado. Aproveitando o momento de pausa, comi ali mesmo os pães, enquanto conversava.

Confirmaram que quanto mais para o norte eu seguisse, mais areia encontraria nas estradas. Falei do trajeto que pensava em percorrer após pernoitar em Buritizeiro, e explicaram o caminho para Paredão. Entre outros assuntos, me listaram o nome de algumas das empresas que plantam eucalipto no noroeste de Minas Gerais – além  da RIMA: MINASLIGA, LIASA, SANTOS DIAS, MINAS BRÁS, GERDAU, PETCOVE, PLANTAR. Interaram que todas elas produzem madeira para as siderúrgicas, e acrescentaram: “ Ih...Você tá querendo encontrar cerrado? O cerrado acabou, agora é só eucalipto”.

Faltavam ainda 50km para chegar em Buritizeiro. – Depois de alimentada, tudo bem: seguiria em paz. Felizmente os últimos 40km, me disseram, seriam sobre um aslfato “novinho”, bastante plano e com algumas “banguelas” - para ajudar no final. 

Deixei os capatazes da RIMA e voltei para a estrada. No caminho, encontro os trabalhadores (mulheres e homens) da obra de recapeamento da BR. Acham graça na viagem e oferecem carona no caminhão que os levará de volta a cidade, agradeço mas declino da oferta; então eles se despedem admirados e riem da situação.

Cheguei em Buritizeiro cinco e meia da tarde. Nos últimos kilômetros já estava bastante cansada – foram 130km neste dia. Nada, contudo, que me impedisse de admirar a beleza dos chapadões do São Francisco no horizonte sendo banhados por uma chuva precipitada do céu que mais parecia pó de ouro derramando sobre a terra.           

3 comentários:

  1. Curioso Ana, eu cheguei a Buritizeiro no fim da viagem, vindo de Paredão, mas entrei na cidade mais ou menos nesse mesmo horário depois de rodar aproximadamente 110km, a maior parte na terra. Estava também exausto, mas o reencontro com o São Francisco é sempre um deslumbramento!

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  2. É o rio capital. O Velho Chico em Pirapora- Buritizeiro tira a gente do tempo. Aliás, Minas Gerais é bom por isso: porque tira a gente do tempo. Gosto dos Gerais como quem sente cheiros antigos e se perde. Sinto-me madeira daquelas terras; uma força, um puxão da eternidade.

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