Sertão é por os campos gerais a fora e a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia...
Lugar sertão se divulga: é onde os pastos
carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas,
sem topar com casa de morador...


Sertão é o sozinho(...)Sertão: é dentro da gente.



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

04/06 - Chapada Gaúcha

04/06 Cheguei no ponto mais extremo de minha travessia: Chapada Gaúcha. Daqui retorno para Arinos e de lá sigo rumo oeste para entrar no estado de Goiás. Mas antes irei a cidade de Buritis, indo por aquele que será meu último trecho de terra. Apesar do asfalto vou pelo caminho de terra para ver a cachoeira do rio Urucuia - e também fugir de trechos perigosos que me disseram haver numa serra entre as cidades.

A viagem voltou a fascinar, o cansaço passou e eu estive em lugares incríveis; vi veredas fantásticas.
De Arinos para Chapada Gaúcha vim por um caminho alternativo que apesar de encompridar a viagem e fazer com que eu mais uma vez pedalasse por bancos de areia - ou melhor empurasse a bike (pensava que em Arinos acabaria minhas estradas de terra, mas que nada) -, me levou a conhecer paisagens belíssimas e pessoas que vivem ainda sem luz elétrica e sem água encanada em casa.
Tomei banho de canequinha - ou melhor, pote de margarina - com água esquentada em fogão de lenha. Para café da manhã, o clássico mineiro café com queijo, e mais uma vez estrada.
Seu Francisco, um agregado da família de seu Caetano que me hospedou, me guiou até a estrada principal para que eu chegasse em Chapada Gaúcha. Se ele não me guiasse - ele também de bike, uma monark daquelas bem antigas -, eu ia ficar perdida no mato. Foram mais ou menos uns 10km de estradinhas que por horas desapareciam e viravam o que eles chamam de picada.
De repente, ao sair do mato, chegamos em uma larga plantação de soja. Uma visão impressionante, uma gigantesca fazenda de 3000 hectares toda plana, com capim, soja e outras culturas alternativas. Não era uma fazenda, era uma indústria. Eu tinha acabado de deixar o Brasil do século XVI e chegado a uma fazenda texana com silos para armazenamento de grãos, escritório e tudo; já estava em território do município de Chapada Gaúcha.
Eu e seu Francisco rumamos para o lado do escritório da fazenda. Até chegar lá foram uns três kilômetros só rodiando a plantação de capim. Chegamos e, incrivelmente, encontramos o dono da indústria: um gaúcho nascido na Holanda cheio de sotaque. - Bizarro.
Enfim, quedamos um tempo lá, me certifiquei do caminho que teria que percorrer até a cidade, me despedi de seu Francisco e segui.

Chapada Gaúcha.

Para não falar muito mais, só digo o seguinte: conheci os biólogos responsáveis pela adminstração do parque, são ótimos. E eles me conseguiram uma carona para visitar o parque. Iriam levar para casa o último morador de lá, seu Samu.
Fui com um dos funcionários do Instituto Chico Mendes levar seu Samu e D. Laudelina de volta para a rocinha deles.
Eles realmente moram no fim do mundo: 50km de cerrado fechado até chegar na rocinha de seu Samu, dentro do parque. Estradas que só rural com tração nas 4 anda. Duas horas para chegar. No caminho: veado catingueiro, jacus, catitus e queixadas; rastros de guará e anta na estrada, armadilhas para captura e monitoramento de felinos e muitas belas veredas. - Além das histórias de sucuris e onças: fantástico!

Agora defitivamente perdi o medo de andar pelo mato, quando ia para a casa de seu Caetano, no Rio do Ouro, percebi que não estava mais tensa de andar por estradinhas do cerrado. Só ia, mesmo com vacas soltas no meio do mato.

Estou apaixonada por isto aqui. O cerrado é incrível, vegetação vibrante que estala sob o sol e explode em águas limpíssimas e claras.

Só mais um detalhe: estive aproximadamente a um kilômetro do rio Carinhanha, que divide o estado de Minas da Bahia, do lado da Bahia é que, em Grande Sertão Veredas, Riobaldo chama de Liso do Sussuarão.

Fotos virão depois, em outra paragem.

Beijos gerais!

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