Convencida
de que só me restava encontrar a BR-365 para chegar a Buritizeiro, me despeço
de Adriano, o “guarda”da fazenda, e tomo
a direção que indicou. Aproximadamente sete kilômetros mais por chão de terra,
saio no asfalto. Barulho, excesso de caminhões, camionetes, acostamento
precário: linha reta, pista simples e margens de uma falsa savana de cerrado –
afinal, a faixa de mata nativa preservada ali só mascara as grandes florestas
de eucalipto que emergem infinitas poucos metros adentro.
Era uma e
vinte da tarde. Percorria a monotonia da passadeira preta desde meio-dia e
meia. Não havia nenhuma construção na beira da estrada, temia não encontrar
qualquer lugar onde pudesse conseguir comida. Poucos minutos depois, porém,
avistei do outro lado da pista uma casa entre eucaliptos: supus fosse um posto
de gasolina com restaurante. Não era, tratava-se do segundo posto da RIMA,
outra empresa-fazenda de eucalipto. Fui recebida na casinha por dois vigias:
Wilson e Edmundo, que, para meu alento, tinham ainda alguns pães que sobraram
do café da manhã. Tal qual a fazenda anterior, a entrada desta era também
gradeada e fechada com tela de metal. Os vigias me convidaram a entrar porque confiaram
que eu não era uma espécie de assaltante ou investigadora, pois o acesso ali
não era permitido a estranhos. Sentei no terraço da casinha – que era um cômodo
com pia e banheiro, simplesmente – e esperei. Logo, retornaram os dois: traziam
uma sacola plástica com três pães amanhecidos, com margarina, e um pedaço de
doce-de-leite. Desculparam-se por não poderem oferecer uma refeição típica para o almoço: mas recebiam marmita e as porções eram, como se sabe, individuais; e ambos já haviam almoçado. Aproveitando
o momento de pausa, comi ali mesmo os pães, enquanto conversava.
Confirmaram
que quanto mais para o norte eu seguisse, mais areia encontraria nas estradas.
Falei do trajeto que pensava em percorrer após pernoitar em Buritizeiro, e
explicaram o caminho para Paredão. Entre outros assuntos, me listaram o nome de
algumas das empresas que plantam eucalipto no noroeste de Minas Gerais – além da RIMA: MINASLIGA, LIASA, SANTOS DIAS, MINAS BRÁS,
GERDAU, PETCOVE, PLANTAR. Interaram que todas elas produzem madeira para as
siderúrgicas, e acrescentaram: “ Ih...Você tá querendo encontrar cerrado? O
cerrado acabou, agora é só eucalipto”.
Faltavam
ainda 50km para chegar em Buritizeiro. – Depois de alimentada, tudo bem:
seguiria em paz. Felizmente os últimos 40km, me disseram, seriam sobre um
aslfato “novinho”, bastante plano e com algumas “banguelas” - para ajudar no
final.
Deixei os capatazes da RIMA e voltei para a estrada. No caminho,
encontro os trabalhadores (mulheres e homens) da obra de recapeamento da BR.
Acham graça na viagem e oferecem carona no caminhão que os levará de volta a
cidade, agradeço mas declino da oferta; então eles se despedem admirados e riem
da situação.
Cheguei em
Buritizeiro cinco e meia da tarde. Nos últimos kilômetros já estava bastante cansada
– foram 130km neste dia. Nada, contudo, que me impedisse de admirar a beleza dos
chapadões do São Francisco no horizonte sendo banhados por uma chuva
precipitada do céu que mais parecia pó de ouro derramando sobre a terra.
Curioso Ana, eu cheguei a Buritizeiro no fim da viagem, vindo de Paredão, mas entrei na cidade mais ou menos nesse mesmo horário depois de rodar aproximadamente 110km, a maior parte na terra. Estava também exausto, mas o reencontro com o São Francisco é sempre um deslumbramento!
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ResponderExcluirÉ o rio capital. O Velho Chico em Pirapora- Buritizeiro tira a gente do tempo. Aliás, Minas Gerais é bom por isso: porque tira a gente do tempo. Gosto dos Gerais como quem sente cheiros antigos e se perde. Sinto-me madeira daquelas terras; uma força, um puxão da eternidade.
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